Havia dias de pular de alegria, de cantar e rir sem aparente razão. Dias alegres, transbordantes e plenos como as tardes longas de Verão. Havia dias insuportavelmente tristes, de questionar simplesmente a razão das coisas. Dias infinitos e frios.
Ela tinha o de ténis, que era meigo e querido e atencioso. Mas ela queria o de fato, que era frio, arrogante, e para quem a sua existência permanecia absolutamente invisível.
"Abre os olhos.", eu disse-lhe."Estão abertos.", respondeu.
Mas continuava insistindo em perpetuar esse desencontro de perseguir sempre o inantigível, o inalcançável, para depois chegar lá e descobrir uma imensidão de vazio, um inesgotável nada que não tem para lhe dar.
"Queremos sempre o que não temos...", disse-lhe eu a medo. "Sempre. E isso é incontornável.", disse-me ela com uma convicção inabalável.
Remeto me ao silêncio. Respiro. Suspiro. E respiro outra vez. Rasgo um gesto mudo. Esboço um desenho impreciso de vontade e desalento. Rendo-me por fim á minha invisibilidade. Pelo menos é minha...
(Se havia coisa na qual eras sem dúvida incomparável, era na tua indiscutível inclinação para as palavras que não diziam nada)
Sem comentários:
Enviar um comentário